Com o lema “Renovar o mundo pelo amor”, a Fundação AJU – Jerónimo Usera tem vários projetos de apoio, em áreas distintas e para diferentes idades. A fundação surgiu pela mão da Irmã Rosa Costa, da Congregação das Religiosas do Amor de Deus, em 1988, inicialmente com um nome diferente.Ao perceber as necessidades existentes no bairro da Abuxarda, em Alcabideche – um dos locais onde está presente em Portugal esta congregação –, Rosa Costa procurou responder a essas carências. “A AJU foi se formando e desenvolvendo e hoje tem um trabalho muito mais sustentado, técnico e direcionado”, explica a Diretora Técnica da AJU, Maria Roquette.

O Projeto Crescer é um desses exemplos, tendo sido criado para apoiar jovens com elevadas taxas de absentismo e insucesso escolar, sendo uma resposta de acompanhamento e apoio ao estudo. Focado em crianças e jovens, este projeto é “um espaço para crescerem e se desenvolverem de forma saudável”, destaca a diretora técnica, que lembra que este projeto nasceu em 2009, mas que a partir de 2000 já havia atividades com crianças.

É em Alcabideche, no bairro da Abuxarda, que se situam as instalações da fundação até onde, em anos sem restrições sanitárias, se deslocaram as crianças e jovens inscritos no projeto. Com um limite anual de 50 pessoas, atualmente, a maior parte dos estudantes encontra-se entre o 5.º e o 10.º ano de escolaridade. Carminho é a estudante mais velha entre os jovens inscritos no Projeto Crescer, tem 17 anos e está na fundação desde os 10. Começou por ter consultas de psicologia e, ao ver as crianças a brincar, queria juntar-se a elas, o que, aliado à necessidade de apoio ao estudo, a levou a inscrever-se.

 

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O Projeto Crescer pretende ser “um espaço protegido e de incentivo ao sucesso escolar”, descreve Maria Roquette, incluindo diferentes áreas de abordagem. Na área do desenvolvimento pessoal, e numa parceria com o Gabinete de Psicologia AJU, há sessões durante o ano letivo, onde o objetivo passa por ampliar o autoconhecimento, para aprender a gerir as emoções. A nível escolar, a abordagem consiste no apoio ao estudo, gerido por quatro monitores, que supervisionam e ajudam nos trabalhos de casa, e aos quais se juntam todos os explicadores voluntários. “É um apoio muito importante porque esta organização a nível escolar não existe em casa”, explicou Maria Roquette.

Um dos monitores é João Lourenço, que trabalha na fundação há sete anos, entrando enquanto estagiário para o Crescer. “Quando entrei na AJU, havia muitos meninos que nem a mala traziam e nós fomos incutindo uma nova maneira de estar, para que no final do ano conseguissem passar”, recorda. João é tutor de algumas crianças e jovens e conta que é assim que conseguem prestar o apoio, dividindo as crianças e jovens por monitores que assumem a função de comunicar com a escola, diretores de turma e encarregados de educação.

Carminho lembra que, com a ajuda dos monitores, conseguiu melhorar as notas. Encontrou na AJU um espaço de acompanhamento, onde tem mais motivação para estudar. E destaca que, ali aprendeu muitas outras coisas. “Aqui na AJU aprendemos a relacionarmo-nos com pessoas diferentes. Na escola, os meus colegas são todos iguais, estão todos movidos para as humanidades. Ao contrário do que acontece aqui, em que uns têm mais aptidão para as artes, outros mais para as letras ou para a matemática. Somos todos diferentes e podemos aprender uns com os outros”, explica a jovem estudante.

 

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O apoio ao estudo não se limita aos monitores. Com a ajuda de explicadores voluntários, há mais crianças e jovens que encontram resposta às suas necessidades, através das explicações e apoios em disciplinas específicas. A pandemia, para o Projeto Crescer, trouxe a possibilidade de assegurar um maior número de explicações, uma vez que tanto os pedidos como a oferta de explicadores aumentaram. Presencialmente, o espaço limitaria este crescimento.

Durante o verão, há uma aposta em atividades lúdicas e colónias de férias, que levam as crianças e jovens a museus e oficinas, à praia e até ao cinema. Mas esta não é a única aposta que complementa a vertente escolar. O Projeto Crescer mantém a ligação ao desporto, com a escolinha de futebol, e também com a prática de natação e ténis, querendo futuramente aumentar o número de atividades.

 

 

Um percurso que “abra mais portas”

“O Crescer é um percurso e, não havendo nada em contrário, nós fazemos questão de que eles entrem no 1.º ano e continuem até ao 12.º ano, o que acontece com a maior parte das crianças”, revela João Lourenço. Lembrando que durante este percurso tentam formar os estudantes em vários níveis, sendo um deles a criação de consciência ambiental, levando os jovens a assumir um papel na sociedade, através da reciclagem, por exemplo.

 


“O Crescer é um percurso e, não havendo nada em contrário, nós fazemos questão de que eles entrem no 1.º ano e continuem até ao 12.º ano, o que acontece com a maior parte das crianças”
João Lourenço, monitor do Projeto Crescer


As portas do Crescer abrem-se às 15h e fecham às 19h durante o período letivo. Durante as férias, tanto a abertura como o fecho antecedem uma hora. De segunda a sexta-feira, os monitores recebem os estudantes e dão início a mais um dia em que os trabalhos de casa dão o pontapé de partida, depois chega o lanche, e só mais tarde vem a hora de entrar num campo de jogos e brincadeiras, que compõem o resto das tardes daquelas crianças e jovens. “Nós queremos que eles tenham um percurso de vida que lhe abra mais portas e que possam, um dia mais tarde, ingressar no ensino superior”, afirma João.

Um desses exemplos é Aires, de 21 anos, que terminou recentemente a licenciatura em Finanças Empresariais. Entrou para a Fundação AJU durante o seu 7.º ano e saiu apenas quando deixou o ensino secundário. “Ter feito parte desta fundação foi uma das melhores experiências que tive na vida, porque ajudou-me a ser o homem que sou hoje, pelos princípios aqui transmitidos, como os de respeito e união”, conta. Lembra que, à medida que ia ficando mais velho, percebia que os anos na AJU foram uma grande aprendizagem.

 

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Da proximidade à distância

Durante a hora dos trabalhos de casa, os explicadores juntavam-se, com a regularidade definida, para o apoio ao estudo. Contudo, ao longo dos últimos meses, tudo foi diferente, durante o tempo em que as instalações estiveram fechadas, devido à pandemia da Covid-19. Os explicadores adaptaram as suas funções ao digital e, atualmente, os monitores trabalham em par e rodam semanalmente. “Esta possibilidade de aproximarmos pessoas e realidades com uma distância grande é extraordinária”, refere a diretora técnica, que exemplifica com o caso de um dos explicadores que vive em Londres.

Outra das explicadoras é Catarina, de 17 anos, que conheceu o Projeto Crescer em 2020. Ainda antes da pandemia da Covid-19, teve a oportunidade de dar explicações nos espaços da AJU. Começou por apoiar estudantes do 5.º ano e, depois, alunos do 6.º ano, em que deu, respetivamente, uma ajuda nas disciplinas de português e matemática. Começava com os trabalhos de casa, mas também preparava fichas e matéria para dar aos explicandos, principalmente de preparação para os testes. “A maior parte das pessoas não tem noção de quão pouco custa, do nosso lado, dispensarmos uma hora por semana para ajudar estas crianças, e do impacto que terá na vida delas”, diz a jovem, que, por experiência própria, sabe que as explicações fazem a diferença no percurso de um estudante.

 


“A maior parte das pessoas não tem noção de quão pouco custa, do nosso lado, dispensarmos uma hora por semana para ajudar estas crianças, e do impacto que terá na vida delas”
Catarina, explicadora no Projeto Crescer


 

Ainda a adaptar-se à nova realidade, o Crescer pretende criar um regime híbrido para as explicações, para que haja uma maior proximidade entre todos, onde o feedback sobre a explicação é mais imediato, e onde os jovens podem ver nos voluntários uma referência que está ali envolvida com a fundação. “Nós gostamos muito dessa proximidade e achamos que o trabalho com as pessoas que acompanhamos se faz dessa relação”, conclui Maria Roquette.

Catarina recorda que os meses de explicação presencial permitiram criar uma maior ligação com as crianças. Nem sempre é fácil criar uma ligação com eles, conta, reforçando que presencialmente a interação se torna mais simples e produtiva.

 

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Disponibilidade para ajudar

Para ser explicador, o único requisito é ter disponibilidade e interesse em ajudar crianças e jovens que vivem em situações de dificuldade, e que, de outra forma, não conseguiriam ter acesso a explicações e apoio ao estudo. “É importante que se sintam confortáveis em dar explicações”, destaca a diretora técnica. O explicador mais novo tem 16 anos, mas há voluntários de todas as idades, muitos são estudantes e há até alguns professores reformados. 

Catarina pretende continuar a ajudar os jovens do projeto e recorda um dos momentos mais marcantes do último ano. “No Natal passado, ofereci a cada um deles um livro. Quando voltámos das férias, um dos meus explicandos já tinha acabado o livro e perguntava-me se tinha mais em casa que lhe emprestasse para ler. É muito bom perceber que estamos a estimular nesse sentido”, conta a jovem.

“Se nós existimos como instituição, no que depender de nós, através das parcerias, dos voluntários excelentes que temos, do que vamos conseguindo, vamos ser um espaço para eles experimentarem coisas e sonharem alto. Queremos criar-lhes as oportunidade que por eles próprios muitas vezes não conseguem. Mesmo que o contexto em casa não seja fácil, que seja a AJU um espaço de incentivo a investir no seu percurso escolar e profissional, e um local onde podem vir sempre que tiverem alguma dificuldade ou dúvida”, reforça a diretora técnica.

 


 “Se nós existimos como instituição, no que depender de nós, através das parcerias, dos voluntários excelentes que temos, do que vamos conseguindo, vamos ser um espaço para eles experimentarem coisas e sonharem alto"
Maria Roquette, diretora técnica da AJU


 

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Aproximar para integrar

Durante o seu último ano do secundário, Aires ia à fundação ajudar os mais novos nos trabalhos de casa e fazer com eles algumas atividades lúdicas. Este é também o caso da Carminho, de 17 anos, que ajuda os mais novos nos estudos, aproveitando também os espaços para estudar, agora com mais autonomia. Tem na mesma a ajuda de explicadores para as disciplinas de inglês e filosofia. Conta que ajudar nos estudos nem sempre é fácil, porque é preciso encontrar uma explicação que ajude os explicandos a “chegar à resposta sozinhos”.

Atualmente, Aires ajuda os jovens de outra forma, conta – ao vê-los na rua, procura ajudá-los e motivá-los para que invistam no seu futuro. “Aqui no bairro está incutido que somos só nós, e a AJU veio aproximar as pessoas e ajudar na sua integração, não só as do bairro, como também as da comunidade envolvente”, explica o jovem, que ambiciona prosseguir nos estudos para mestrado.

Para Aires, os tempos na fundação foram mágicos, elucidativos e divertidos, tendo uma certeza: “sem a AJU não seria tão feliz como sou hoje”. No seu tempo enquanto explicando, olhava para os monitores como exemplos paternais, cujas pisadas queria seguir. Uma visão que Carminho partilha, acrescentando que este contacto a permitiu tornar-se mais atenta aos outros, mais comunicativa e com mais vontade de continuar a estudar no ensino superior. “Sem a AJU seria mais fechada em mim”, conclui.