Atualmente, 59% dos encarregados de educação revelam inscrever os seus educandos em atividades extracurriculares. Estes dados derivam de um estudo do Observador Cetelem, que acrescenta que o desporto é a ocupação mais procurada pelos alunos (77% das inscrições), seguida da música (25%) e da dança (19%).
A preparação para o futuro é uma das principais vantagens associadas às ocupações extracurriculares. É habitual ver a relação destas atividades com o desenvolvimento de competências essenciais para o futuro pessoal, académico e até profissional dos estudantes, competências essas que não são frequentemente exploradas na escola.
A investigadora Anabela da Cunha constata, na sua dissertação de mestrado “A Importância das Atividades Extracurriculares na Motivação Escolar e no Sucesso Escolar”, que estas atividades extracurriculares “fomentam o desenvolvimento cognitivo, físico, social e até emocional dos alunos”.
Sobre a esfera emocional, sabe-se que a prática extracurricular tem impactos ao nível da saúde mental das crianças e adolescentes, contribuindo para um maior “ajustamento emocional, nomeadamente maior autoestima e menor depressão”, destaca a investigadora.
Sabias que as experiências extracurriculares influenciam o percurso profissional dos estudantes?
Segundo o estudo “Preparados para trabalhar?”, com Diplomados do Ensino Superior e Empregadores e da autoria da Forum Estudante e do Consórcio Maior Empregabilidade:
- 46% dos diplomados revelam ter participado em pelo menos uma atividade extracurricular durante o seu percurso académico;
- O desporto (14%), as atividades associativas (14%) e os programas de mobilidade no estrangeiro (13%) apresentam-se como as atividades mais realizadas;
- A participação nestas atividades promove o desenvolvimento de competências profissionais, com especial destaque para o domínio das línguas estrangeiras.
Um caminho para o crescimento pessoal e sucesso escolar
As atividades extracurriculares estimulam a aquisição de competências de desenvolvimento pessoal e social, tal como é sublinhado por João Soares na sua dissertação de mestrado “As actividades extracurriculares como práticas de inclusão de alunos de 2.º Ciclo”. O investigador defende que estas ocupações são importantes para os estudantes, ao “capacitá-los de competências pessoais e interpessoais/sociais necessárias ao sucesso no seu percurso académico”.
Entre estas competências está a resolução de problemas e desafios, já que estas atividades “constroem cidadãos livres de problemas, preparados para enfrentar a vida adulta e para contribuir positivamente para a sociedade”, de acordo com a mesma investigação.
Exemplo disso são as atividades de voluntariado e a sua relação com uma maior consciência cívica. Sobre o trabalho voluntário, os alunos “consideram que esta experiência os torna melhores pessoas por se sentirem úteis e ativos na sociedade” conclui Ana Ferreira na sua dissertação de mestrado “Promoção do voluntariado nas escolas: o seu contributo para o desenvolvimento pessoal e comunitário. Um Estudo de caso”.
Além disso, estudos comprovam que estas ocupações de tempos livres influenciam o sucesso escolar dos alunos. De acordo com o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), da autoria da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), “o tipo e a oferta de atividades extracurriculares varia bastante, mas a sua ligação com um melhor desempenho dos alunos é constante”.
Da mesma forma, Anabela Cunha sublinha que os estudantes envolvidos nestas tarefas “apresentam um maior e mais significativo envolvimento na escola”.
Conhece o testemunho de alguns estudantes
“Podemos explorar interesses pessoais e descobrir talentos”
Matilde Nunes
18 anos, 12º ano, Escola Básica e Secundária Fernão do Pó
"Já pratiquei diversas atividades, mas tive de deixar algumas devido à carga horária! Neste momento, sou escuteira, mais especificamente guia de comunidade.
Fiz ensino articulado em piano e continuo a ter aulas! Canto no coro feminino juvenil-vox feminis e toco percussão na banda filarmónica do Bombarral. Também sou presidente da associação de estudantes da minha escola e, por isso, estou envolvida em muitos projetos associados à juventude e ao futuro, como o projeto “Praça do Luxemburgo”, cujo objetivo é apelar às eleições europeias!
Faço voluntariado em várias áreas, como no banco alimentar, e dou explicações a meninos do 3° ciclo que tenham dificuldades na escola.
Definitivamente recomendo a participação em atividades extracurriculares, já que permitem-nos desenvolver habilidades que podem não ser abordadas na sala de aula, como liderança, trabalho em equipa e comunicação. Além disso, podemos explorar interesses pessoais e descobrir talentos, aumentando a nossa confiança e a autoestima".
“Acaba por ser extremamente importante arranjarmos algo que nos leve a respirar de alívio”
Nuno Fians
16 anos, 11º ano, Escola Secundária do Fundão
"Há quem diga que sou um multitasker, eu acho que sou só produtivo.
Sou ativista no Clube de Direitos Humanos, escuteiro no 1335 de Aldeia de Joanes e também sou escritor no Jornal Escolar Olho Vivo, assim como locutor de rádio na RCB no programa "Dias de Escola". Participo ativamente no Parlamento de Jovens e sou coordenador de um Grupo de Jovens.
Tinha eu 12 anos quando mudei de turma e fiquei desamparado, sem amigos, e uma professora aconselhou-me a entrar para o Clube de Direitos Humanos. Hoje, o Nuno que continua no Clube já não conhece o Nuno de 12 anos que há 4 anos nunca sonharia que transformaria a sua vida completamente.
Vivemos sobrecarregados de trabalhos, aulas, testes, tantas coisas que já nos pressionam e nos deixam limitados a uma vida enclausurada pela escola, que acaba por ser extremamente importante arranjarmos algo que nos leve a respirar de alívio, mas ao mesmo tempo a contribuir para as nossas aprendizagens e para o nosso futuro.
Por isso, considero que nós, jovens, devíamos procurar mais atividades fora e dentro da escola que revelem o melhor de nós e que nos ajudem a respirar da pressão escolar".