Há mais de 250 milhões de anos, a Pangeia era o único continente do mundo. As suas costas eram banhadas por uma também única massa de água: o mar da Pantalassa. Aos poucos, a Pangeia foi-se fragmentando, originando o Mar de Tétis e, mais tarde, novos e mais pequenos mares e bacias, como a bacia lusitânica. A separação da Pangeia em dois novos continentes – a Laurásia e o Gondwana – terminou durante o Período Jurássico, entre 142 e 205 milhões de anos atrás.
O quarto dia da Semana Tanto Mar levou os seus participantes numa viagem até este período, num trajeto guiado por Francisco Félix. “O lema desta semana é ‘conhece o mar em profundidade’”, recordou o professor de Geologia, antes de acrescentar: “[Neste trajeto] vamos conhecer o tempo em profundidade”.
Em entrevista à FORUM, o professor explicou que este “mergulho no tempo” teve como objetivo salientar “a importância do Período Jurássico na península de Peniche”, com destaque para a Ponta do Trovão – uma área reconhecida internacionalmente como possuindo o melhor registo a nível mundial da transição entre os intervalos Pliensbaquiano-Toarciano (andares do Jurássico Inferior). As características únicas da Ponta do Trovão foram destacadas pela UNESCO através da atribuição de um “prego dourado”, presente no local.
Ao longo da manhã, partindo do farol do Cabo Carvoeiro até à Ponta do Trovão, os participantes da Semana Tanto Mar puderam ter uma visita guiada pelo património geológico aí existente. Para Francisco Félix, este percurso geológico teve ainda como objetivo salientar que “estes recursos não são renováveis” e que necessitam, por isso, de conservação, sendo importante que os participantes “levem consigo o conhecimento adquirido até aos locais de onde são oriundos”.
A mensagem da preservação deste património, destacou Francisco Félix, é também disseminada através de uma organização de que faz parte – a Associação Arméria - Movimento Ambientalista de Peniche, criada 1999. “Procuramos a valorização do espaço, a partilha de conhecimento e informação, através de passeios e ações de sensibilização, nomeadamente em escolas”, afirmou o professor.
No lugar do faroleiro
O dia dos participantes da Semana Tanto Mar começou no farol do Cabo Carvoeiro, onde o faroleiro de 1.ª classe, Hélder Mendonça, realizou uma visita guiada e contextualização história. Um dos faróis mais antigos da costa portuguesa, o Farol do Cabo Carvoeiro começou a sua atividade em 1790. Deste então, a estrutura acompanhou a evolução tecnológica, tendo utilizado, desde a sua fundação, azeite, petróleo, gás e eletricidade.
“O faroleiro passava a noite no farol, operando as lentes para transmitir sinais”, explicou Hélder Mendonça. As lentes, focando a luz, ampliavam a distância percorrida por um feixe que era enviado em rotação. A duração desta mesma rotação – no caso do Farol do Cabo Carvoeiro, de 10 segundos – era ela própria um sinal a enviar a todas as embarcações. “Esse código permitia aos navegadores identificar a proveniência do sinal”, realçou.
Durante a tarde, houve ainda tempo para mergulhos nas ondas da Praia do Molhe Leste.
Um mar para o futuro
"Alguém sabe o que é um Geoparque?". A pergunta partiu de Miguel Reis Silva, da equipa do Aspiring Geoparque Oeste. A resposta chegou logo depois: "É um território com unidade geográfica que conta uma história". A relevância internacional do património geológico de 6 municípios do Oeste (Peniche, Lourinhã, Cadaval, Caldas da Rainha, Torres Vedras e Bombarral), explicou, levou à fundação do projeto Aspiring Geoparque Oeste.
Depois de jantar, os participantes puderam conhecer as principais mais-valias desta iniciativa que inclui dimensões como a biodiversidade e geodiversidade da linha de costa ou a riqueza paleontológica da região. O plano estratégico do projeto prevê a apresentação a candidatura a Geoparque Mundial da UNESCO durante o ano de 2022, sendo que o resultado deverá demorar dois anos até ser conhecido. Durante o ano de 2023, a UNESCO deverá visitar o território, antes da deliberação prevista para 2024. A iniciativa assenta em três eixos estratégicos, do ponto de vista do desenvolvimento do território, nos próximos dez anos, com foco na geoconservação, geoeducação e geoturismo.
A apresentação de Miguel Reis Silva focou a ligação do aspirante Geoparque do Oeste ao oceano, nomeadamente através da exibição de um documentário produzido no âmbito do projeto que destaca a ligação de Peniche ao mar. "Temos aqui um território a trabalhar para o mar, a trabalhar para que não seja apenas um cenário para tirar fotografias, mas também um recurso importante para o nosso futuro", salientou Miguel Reis Silva. No total, o território incluído nesta candidatura abrange 1154 quilómetros quadrados, num total de 72 quilómetros de costa.
A Semana Tanto Mar continua amanhã, com visita marcada ao Arquipélago das Berlengas. Para além da visita à Berlenga Grande, o destaque vai para a realização de um baptismo de mergulho.