"Não é preciso ver para crer" é o slogan da nova campanha da APAV sobre cibercrime, procurando prevenir comportamentos de risco online e promover a denúncia de conteúdos ilegais. Por essa razão, a ação de comunicação destaca também o papel da Linha Internet Segura (LIS) – o serviço que se define como tendo por base "o atendimento telefónico a todos que tenham questões sobre o uso de plataformas e tecnologias online".
O número de chamadas recebida pela linha, revela o gestor da LIS, Ricardo Estrela, tem sido crescente. O maior número de atendimentos, detalha, dizem respeito a casos de cyberbullying, burlas (comerciais ou pessoais), divulgação não consensual de imagens e difamações ou injúrias online. Por outro lado, as denúncias relativas a fenómenos como sextortion ou revenge porn têm aumentado.
Vídeo da campanha "Não é preciso ver para crer", da APAV (Fonte: Canal do YouTube da APAV)
A Linha Internet Segura está disponível das 9h00 às 21h00, de forma gratuita, através do número 821 90 90 (ou através do email Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.). Para além do atendimento confidencial e anónimo prestado através deste canal, o site do Centro Internet Segura disponibiliza diversos formulários de denúncia, para casos como discurso de ódio, pornografia infantil ou incitamento à violência, por exemplo.
A Linha Internet Segura não se destina, contudo, a atender apenas as vítimas de cibercrime, ressalva Ricardo Estrela, prestando também esclarecimentos e orientações a qualquer interessado. As informações partilhadas poderão ser úteis para "qualquer jovem ou cidadão cumprir um papel que poderá fazer a diferença".
"Qualquer pessoa, tendo conhecimento de alguma situação de cibercrime, pode sempre ligar para a Linha Internet Segura, para pedir ajuda e até mesmo para transmitir alguma das nossas orientações de segurança [à vítima]", reforça o gestor da LIS.
O caso dos jovens
No caso específico dos jovens, há fenómenos que se registam com maior frequência, sendo que Ricardo Estrela destaca "o crescente número de denúncias relativas a abuso sexual de menores online". Desde janeiro de 2019, revela o gestor da LIS, a APAV já recebeu denúncias de cerca de 500 casos de pornografia infantil.
Em muitos destes casos, realça Ricardo Estrela, crianças e jovens são ludibriados, através de redes sociais ou chats, ao pensarem que comunicam com uma pessoa da sua idade. Na realidade, salienta, esse perfil poderá ser falso, sendo criado por alguém "cujo único objetivo é obter imagens de cariz sexual, para disponibilizar em sites que partilham este tipo de conteúdo".
"Qualquer pessoa, tendo conhecimento de alguma situação
de cibercrime, pode sempre ligar para a Linha Internet Segura,
para pedir ajuda e até mesmo para transmitir algumas
das nossas orientações de segurança [à vítima]"
Ricardo Estrela, Linha Internet Segura
Outro dos fenómenos cada vez mais denunciados pelos jovens diz também respeito à partilha de imagens ou vídeos: o sextortion. Estes são casos de coação, em que se chantageia a pessoa que partilhou imagens íntimas, sob a ameaça de as tornar públicas. As exigências de quem ameaça, conta Ricardo Estrela, podem ser económicas ou passar pela produção de mais conteúdo, por exemplo.
"Este é um fenómeno para o qual as pessoas têm de estar atentas e sensibilizadas", sublinha o gestor da LIS, sobretudo "na ponderação da partilha de conteúdos mais pessoal, seja com um estranho ou uma pessoa de confiança". Isto porque, acrescenta, "uma vez partilhado, é muito difícil fazer com que esse conteúdo deixe de estar disponível". Mesmo nos casos em que se muda de cidade ou de escola, não há garantias que as imagens não voltem a ser publicadas e que a situação de vitimização não se repita. "É uma agressão que perdura no tempo", reforça o gestor da LIS.
A mudança para a APAV
Desde janeiro de 2019, a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) passou a ser responsável pela gestão e operacionalização da Linha Internet Segura. A mudança, salienta Ricardo Estrela, permitiu a integração deste serviço na estrutura da APAV que, durante os últimos 29 anos, "vem desenvolvendo um grande trabalho no apoio às vítimas de crime".
Como consequência, acrescenta, é possível alcançar uma abordagem integrada, que não se resume à partilha de informação: "As pessoas que ligam para a linha podem ter apoio específico, de modo a que consigam, para além de obter informação, tratar do impacto da vitimização". Através deste apoio, conclui Ricardo Estrela, é possível "dar resposta a pessoas que não se sentem protegidas", partilhando estratégias de segurança e informações que podem ajudar a resolver a situação.