De que forma a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) se liga à área do voluntariado? E como tem evoluído essa ligação? 

A CASES viu as suas competências alargadas à prossecução de políticas na área do voluntariado, em 2017, tendo-lhe sido entregue a responsabilidade de desenvolver ações de promoção, coordenação e qualificação do voluntariado. Para além da prossecução de políticas na área do voluntariado, a CASES tem por objeto promover o fortalecimento do sector da economia social, aprofundando a cooperação entre o Estado e as organizações que o integram.

A interligação entre o voluntariado e a economia social é profunda e fica clara quer no percurso histórico destas duas áreas – a formalização do trabalho associativo tem, em geral, como raiz as atividades voluntárias – de acordo com os dados do Inquérito ao trabalho voluntário, 90% do voluntariado formal é feito em entidades da economia social.  

 

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No seu site, a CASES define três medidas essenciais de apoio ao voluntário. Pode contextualizar o âmbito de cada uma delas? Qual considera ser o impacto destas ações?  

A CASES teve como preocupação inicial desenvolver contactos com diferentes parceiros privilegiados na área do voluntariado, no sentido de sinalizar as necessidades e eventuais constrangimentos sentidos no desenvolvimento da atividade de voluntariado. Umas das preocupações transversalmente sinalizadas prendia-se com a necessidade reforçar as condições e disponibilizar mecanismos que dinamizassem e qualificassem esta atividade, contribuindo para que o trabalho voluntário ganhasse um maior dinamismo e um maior reconhecimento.

Tendo por base esse objetivo, a CASES definiu três linhas de atuação que entendeu serem fundamentais para a dinamização e expansão desta prática: Uma plataforma – Portugal Voluntário – como ferramenta de agilização e facilitação do desenvolvimento e participação em ações de voluntariado (ver caixa); Um apoio financeiro para que as organizações promotoras de ações de voluntariado possam fazer face às despesas decorrentes dos seguros dos voluntários, de forma a potenciar o  desenvolvimento de um voluntariado de continuidade, com qualidade, consciente e responsável; e uma linha de financiamento de ações de formação e sensibilização na área do voluntariado, à data encerrada, para reforçar a capacitação e o reconhecimento desta atividade.

Estas ferramentas concorrem para uma respostas às necessidades identificadas de um voluntariado mais seguro e responsável e para uma qualificação do trabalho voluntário.




«É no escalão etário dos 15 aos 24 anos que encontramos a maior taxa de voluntariado – realidade não se verificava nos resultados apurados em 2012»  


 

Outra das iniciativas em que a CASES participou foi o apoio à criação de Bancos Locais de Voluntariado. Que oportunidade representam estas estruturas para os estudantes interessados em realizar voluntariado?  

Os Bancos Locais de Voluntariado (BLV) foram criados por recomendação da Comissão Nacional para o Ano Internacional dos Voluntários (2001) e passaram a ser uma realidade desde 2002. A partir de 2008, a criação destas estruturas passou a ser formalizada através de Protocolo com o Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado e posteriormente com a CASES. 

Portugal conta hoje com 172 BLV ativos e o seu papel, que se traduz numa maior eficácia na utilização dos recursos e na dinamização das vontades, tem sido incontornável na consolidação e expansão do voluntariado. 

Estas estruturas podem e devem ser um veículo de facilitação da prática de voluntariado para os estudantes, flexível e descentralizado, oferecendo acompanhamento de proximidade que lhes poderão prestar. Convido todos os jovens a conhecer os Bancos de Voluntariado existentes nos seus territórios de referência.

 


Plataforma Portugal Voluntário 

Fundada em 2018, a Plataforma Portugal Voluntário assume-se como um ponto de encontro entre quem quer fazer voluntariado e as organizações que o promovem. Neste portal, encontras ainda toda  a informação sonre a atividade de voluntariado: o enquadramento legal, as respostas e produtos de seguro existentes ou os apoios disponíveis e o modelo de programa de voluntariado, por exemplo.  

A Plataforma disponibiliza também um espaço às entidades agregadoras, como os Bancos Locais ou Bolsas de Voluntariado, para que possam fazer a gestão dos processos que acompanham, podendo registar voluntários ou organizações promotoras e fazer o acompanhamento das ações. Sabe mais em portugalvoluntario.pt.


 

 

Considera que o tempo de estudante possui afinidades com a realização de voluntariado? Quais são as mais-valias que um jovem estudante pode retirar desse tipo de experiência? 

Numa fase próxima da entrada no mercado de trabalho, como aquela em que se encontram os estudantes universitários, o voluntariado poderá contribuir – e contribui – para uma melhor definição do que queremos e gostamos de fazer, do que somos capazes de fazer, das mudanças que a nossa ação pode provocar, alargando os horizontes do nosso potencial de intervenção.

Independentemente das motivações, o envolvimento dos jovens estudantes em ações ou projetos de voluntariado permite a aquisição de competências baseadas sempre no aprender a ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e, em particular, aprender a fazer conjuntamente.

Estas oportunidades de trabalho voluntário potenciam o desenvolvimento pessoal e de autorrealização, bem como a aquisição de conhecimentos e competências que têm um importante reflexo na promoção e inclusão profissional e na participação cívica destes cidadãos.

Em suma, o voluntariado é uma atividade com resultados win-win, que se traduzem em valias concretas para quem o pratica: contribui para o enriquecimento pessoal, promove o desenvolvimento de competências, o sentido de responsabilidade, de compromisso e de cooperação; concorrendo para uma melhor preparação para a nova etapa que estão prestes a iniciar.

 

Ao longo dos últimos anos, temos visto algumas instituições de ensino superior reconhecerem formalmente as experiências voluntárias como parte da formação superior, integrada no suplemento ao diploma. Qual a importância que atribui a este passo?  

O reconhecimento formal das experiências de voluntariado pode, sem dúvida, constituir-se como estímulo à prática do voluntariado, tendo presente o potencial que estas experiências poderão encerrar para a continuidade das práticas de voluntariado para além do espaço temporal do percurso académico.

Repare-se que, de acordo com os resultados do Inquérito ao Trabalho Voluntário (ITV), realizado pelo INE (dados de 2018), a taxa de voluntariado mais elevada foi observada nos indivíduos com nível de escolaridade superior (15,1%), que a participação no trabalho voluntário está associada ao nível de escolaridade – há uma correlação direta entre o nível de escolaridade e a prática do voluntariado. 

Por essa razão, o estímulo dos estudantes do ensino superior para vivenciarem experiências de voluntariado, poderá, não só, ter concorrido para o que os dados nos dizem, como nos permitem perspetivar, a médio prazo, maiores e mais estáveis níveis de voluntariado.



A CASES trabalha de perto com projetos de solidariedade e voluntariado jovem. A partir da sua experiência, considera que os jovens estão hoje mais despertos para a realidade do voluntariado? Como sente que tem evoluído essa sensibilidade nas gerações mais jovens? 

Há cada vez mais jovens que fazem voluntariado e isto não é apenas de uma mera perceção. De acordo com o Inquérito ao Trabalho Voluntário, os dados de 2018 refletem um aumento da expressão do número de jovens que se dedicam ao voluntariado, já que é no escalão etário dos 15 aos 24 anos que encontramos a maior taxa de voluntariado – realidade não se verificava nos resultados apurados em 2012. 

Os registos na Plataforma Portugal Voluntário (PPV) acompanham esta tendência: mais de 30% dos voluntários registados têm entre 15 e 24 anos, é neste grupo etário que encontramos a maior percentagem de registos. Esta tendência só poderá beneficiar a realidade do voluntariado em Portugal, porque as práticas tendem a manter-se, o que nos poderá levar a uma maior representatividade da atividade de voluntariado no país.




«A prática do voluntariado não só transforma quem o pratica, como provoca transformações efetivas nas sociedades onde atua»

 

Há alguma mensagem que queira deixar aos estudantes portugueses?  

A mensagem essencial a deixar aos estudantes portuguesas é a de que a sua participação é vital: pelas novas perspetivas, ideias e soluções que aporta e pela forma como essa participação concorre para a sua formação enquanto cidadãos plenos e interventivos. 

O voluntariado pode e deve assumir-se como a expressão tangível dessa participação. Dado o potencial transformativo que encerra e o envolvimento que implica, a prática do voluntariado não só transforma quem o pratica em agentes de mudança, como provoca transformações efetivas nas sociedades onde atua. 

Com a alteração gradual da nossa relação com o trabalho, o voluntariado assume-se cada vez mais como aquilo que somos e queremos ser. Constitui a oportunidade de fazer aquilo que queremos e de que gostamos, com impacto na comunidade onde atuamos e com ganhos de competências. Não deixem de responder à convocatória que a sociedade a todos faz para uma participação efetiva. Façam-no sendo voluntários. 

 

Entrevista retirada do Guia do Voluntariado. Encontra mais informação sobre atividade voluntária nesta publicação disponível aqui