Conhecido como o “Rei Lavrador”, o Rei D. Dinis é normalmente associado à criação do Pinhal de Leiria. Contudo, a História diz-nos que não foi o responsável pela sua fundação. Quer esclarecer esse ponto?

Creede que haverei prazer em vos contar, rogo-vos ora que por isso me escutais, a história que per mi se vai explicar, mui gram prazer para mi é dizer mais, pois se desto sou sabedor, assi o sabedes vos, senhor.  


Tanto quanto percebemos, não respondeu à pergunta… 

Desculpem, foi minha culpa. Isto de ser trovador tem as suas consequências. Já me aconteceu estar a falar sobre o tempo e tal quando, do nada, sai-me um “non posso eu, meu amigo, com vossa soidade viver, bem vo-lo digo”. É chato. De qualquer forma, “o Lavrador” é um cognome mais do que adequado – sempre atribuí especial importância à agricultura. Quanto ao pinhal, foi mesmo o pai que mandou fazer. Ainda assim, eu aumentei-lhe a área consideravelmente. 


E como tem visto a evolução da mata portuguesa em Portugal? Hoje, fala-se muito do eucalipto e das consequências da sua presença, por exemplo...

O que é que é isso do eucalipto?


Ah, agora foi erro nosso. O eucalipto é uma espécie de árvore que só foi encontrada pelos portugueses quase 200 anos depois da sua morte. 

Bem, assim sendo, não posso ser responsabilizado por essa árvore e as tais famosas consequências que refere. E olhe que eu sei que uma árvore pode ter consequências, fique sabendo. Foi para precisamente para proteger os terrenos agrícolas que o Pinhal de Leiria foi criado, por exemplo.   


 


«Quando me imagino como estudante universitário nos dias de hoje, vejo-me de pena na mão, alternando entre as lições de Cânones e a cantiga de amor ocasional. Isso, claro, sem esquecer uma boa caçada pela manhã»


 

Passemos a outro tema. A poesia e o trovadorismo são claramente importantes para si. Como surgiu essa paixão?  

Olhe, talvez seja mesmo de família. O meu avô, Afonso X de Castela, era também ele trovador. Penso que lhe segui as pisadas, criando quase 150 cantigas ao longo da minha vida. E este meu interesse pela palavra terá sido algo importante. Afinal de contas, foi por ele que, no final do século XIII, declarei o galego-português como língua oficial do nosso reino. É a língua na origem da que estamos a falar agora. Só! (risos).  

                                                                                                                                                                                                                           
Sendo uma revista para estudantes, não podemos deixar de fazer mais uma pergunta. Tendo em conta que criou a primeira universidade do país, como imagina a vida universitária atual? 

É verdade, fui eu que criei o Estudo Geral, que começou por funcionar em Lisboa e que daria origem à Universidade de Coimbra, um par de séculos depois. Sou um homem simples, sabem? Quando me imagino como estudante universitário nos dias de hoje, vejo-me de pena na mão, alternando entre as lições de Cânones e a cantiga de amor ocasional. Isso, claro, sem esquecer uma boa caçada pela manhã. Acertei?