Entrevista a Mariana Branquinho da Fonseca, Partner da Heidrick & Strugles, Consultores e Gestão


Forum Emprego - Num mundo em permanente mudança, o bom profissional dos dias de hoje corresponde ao bom profissional de há 10 anos? O que mudou?
Mariana Branquinho da Fonseca - Há uns anos atrás, o bom profissional era aquele que desempenhava bem a sua função, que dominava a sua área de expertise e tinha a capacidade de apresentar resultados. Actualmente isso não basta. É fundamental para o profissional de hoje estar atento ao que se passa à sua volta, não só dentro da empresa onde trabalha, nomeadamente contactando e conhecendo os diversos departamentos / áreas e pessoas que aí trabalham, como também com o mercado em que está inserido. O estar atento ao que se passa à sua volta, poderá permitir-lhe ter acesso mais cedo e mais rápido a informação relevante para a sua actividade, podendo assim reagir e surpreender os outros.

FE - O que é mais importante na avaliação de um candidato: a formação académica, a experiência profissional ou as competências profissionais?
MBF - O que se valoriza na avaliação de um candidato varia consoante a função a que se candidata, da empresa em si e do respectivo contexto. De qualquer forma, à medida que se evolui na carreira profissional, menor é a importância da componente académica e maior o peso que se dá à experiência profissional e às competências de gestão e liderança que o profissional tem vindo a adquirir e desenvolver. No entanto, é de salientar que nos últimos anos, e de uma forma geral, as empresas têm dado um peso crescente às competências comportamentais. Este movimento é justificado pelo facto de estas competências serem fundamentais para a adaptação da pessoa à cultura da empresa – no limite podemos estar perante um profissional tecnicamente muito competente e conhecedor, mas que, por uma incapacidade de se adaptar à cultura da empresa, não consegue entregar resultados.

FE - Relativamente à personalidade dos candidatos, qual o requisito fundamental para integração no mercado de trabalho?
MBF - Mais uma vez acho que podemos ter vários requisitos, mas de uma forma geral e na minha opinião, o que é importante é que a pessoa tenha verdadeiramente vontade de trabalhar (já diz o ditado que “querer é poder”), demonstre proactividade e iniciativa e um grande sentido de responsabilidade.

FE - Que defeitos que considera mais graves?
MBF - Acho que o inverso do que disse acima, ou seja a preguiça (mental e física), a reactividade e a desresponsabilização.

FE - Qual o erro mais frequente num processo de recrutamento por parte do entrevistador? E por parte do candidato?
MBF -
Entrevistador: não se preparar para a entrevista e não ter claro o que pretende avaliar no candidato.
Candidato: Não se preparar correctamente para a entrevista, nomeadamente procurando obter informação sobre a empresa / função a que se está a candidatar.

FE - Existe um perfil de candidato ideal?
MBF - Não existe um perfil ideal, o perfil varia muito consoante a função / empresa a que a pessoa se está a candidatar. Quando se fala em perfil estamos a falar num conjunto de aspectos desde a qualificação académica, experiência profissional, características pessoais e competências de gestão.

FE - O que causa melhor impressão num entrevistado?
MBF -
Acho que várias coisas das quais destacaria: um discurso claro, sendo capaz de apresentar as suas opiniões e as suas decisões de forma sustentada; demonstrar que se preparou para a entrevista através das perguntas e / ou comentários que possa fazer.

FE - Quais as áreas com maior empregabilidade ou seja, quais as áreas consideradas mais promissoras em termos de emprego, no futuro?
MBF - É difícil prever quais as áreas / sectores onde poderá haver mais empregabilidade no futuro. Eu apostaria numa formação que desse uma boa base técnica, mas ao mesmo tempo desenvolvesse a capacidade analítica e de resolução de problemas, adquirindo assim alguma flexibilidade, que pode permitir adaptar-se rapidamente a novas situações. Assim as áreas de Engenharia, Gestão e Economia, Ciências, seriam a minha eleição. Acima de tudo para uma pessoa ser um bom profissional, tem que ser capaz de conciliar dois aspectos na sua profissão – gostar muito do que faz e ser muito bom naquilo que faz.

FE - Que empregos estarão no top daqui a 5 anos?
MBF - Existirá sempre espaço/necessidade para todos os grupos profissionais. Pelas características do nosso mercado as funções comerciais/desenvolvimento de negócio, bem como as tecnológicas, serão provavelmente aquelas mais solicitadas no futuro próximo. No entanto, iremos verificar uma necessidade cada vez maior dessas mesmas profissões se adaptarem à envolvente externa e a toda a evolução tecnológica e social existente. Isto significa que a forma como um Engenheiro, Professor ou Gestor desenvolvem o seu trabalho hoje será diferente de como o fará daqui a 5 ou 10 anos.

FE - A diversidade e quantidade de cursos existentes, e o nível de preparação dos licenciados satisfazem as necessidades do mercado?
MBF -
Não tenho um grande contacto com recém licenciados pelo que tenho alguma dificuldade em responder a esta questão. Mais do que a preparação técnica, aquilo que por vezes me surpreende com os recém licenciados que vou contactando, são as exigências que colocam num primeiro emprego e a preocupação excessiva com aquilo que recebem em troca. Acho que num primeiro emprego, a pessoa deveria estar preocupada em aprender o máximo, e, ao mesmo tempo, perceber o que efectivamente gosta de fazer.

FE - O que aconselharia a um(a) recém-licenciado(a) que pretenda ingressar no mercado de trabalho?
MBF -
Começar a trabalhar o mais rapidamente possível para ter contacto com o mercado de trabalho e com a realidade empresarial. Deve avaliar as oportunidades de trabalho, tendo por base a contribuição que estas terão para o seu desenvolvimento profissional. Dedicação, responsabilidade e capacidade de trabalho são elementos fundamentais, aos quais juntaria, como disse acima, proactividade e iniciativa.